Traumatismos na dentição decídua consistem em desafio para o cirurgião-dentista que deve apresentar preparo técnico e emocional para este tipo de agravo, especialmente em crianças pequenas. Além da necessidade da abordagem da urgência e do acompanhamento do dente traumatizado, lesões traumáticas em dentes decíduos podem determinar seqüelas para os sucessores permanentes. Estas sequelas podem ocorrer no momento do traumatismo, por impacto direto do dente decíduo no germe sucessor, ou como consequência de complicações pós-traumáticas. Quanto menor a idade do paciente na época do traumatismo, mais severas serão as alterações de desenvolvimento envolvendo a coroa do dente permanente. O objetivo deste estudo foi relatar o caso de um paciente que sofreu luxação intrusiva aos 3 anos de idade no incisivo superior decíduo e as consequências para o sucessor permanente. O paciente foi selecionado do Projeto de extensão “Prevenção e tratamento do trauma dentário”, do curso de Odontologia ULBRA/Canoas, onde buscou atendimento. O delineamento deste estudo é relato de caso clínico e foi submetido ao Comitê de ética da Universidade e aprovado sob parecer número 1.340.638. Foi realizada radiografia do dente intruído para definir a opção de tratamento, que foi aguardar a reerupção do dente, o que aconteceu dois meses após o primeiro atendimento. Durante 4 anos de acompanhamento foram realizadas radiografias, tratamento endodôntico e exodontia do dente traumatizado e monitoramento da formação dos dentes permanentes. A imagem radiográfica atual demonstra alteração de desenvolvimento do dente permanente sucessor, extrapolando, assim, o dano de um traumatismo no dente decíduo para o seu sucessor. Pela alta prevalência, pelo alto potencial de causar danos ao dente sucessor permanente, e também pelo impacto na qualidade de vida das crianças, é de fundamental importância que o cirurgião-dentista esteja capacitado para abordar e tratar traumatismos em dentes decíduos, especialmente em casos de luxações intrusivas.